Setenta anos eram decorridos desde o "Descobrimento do Brasil". As autoridades portuguesas ainda não haviam conseguido transpor para o norte os limites de Itamaracá. Indios Potiguares, residentes nas terras orientais da atual Paraíba (mancomunados com traficantes franceses) não permitiam o avanço português, resistindo bravamente a qualquer tentativa de conquista; embora mantivessem relações de "escambo" com viajantes vindos da progressista Capitania de Pernambuco. Numa dessas viagens para as Terras de Copaoba, um mameluco (filho de branco com índia), conheceu e apaixonou-se pela linda (dizem os cronistas) filha do cacique Ininguaçu. Iratembé (Lábios de Mel) era o nome dela. Adolescente de 15 anos, vivia fagueira pelas terras e praias de Acajutibiro (Baia da Traição) e era o "xodό" do cacique. O mameluco pediu a mocinha em casamento. O pai concordou, mas com uma condição: de que Iratembe não fosse levada da tribo, mas que o rapaz passasse a morar nela, fazendo parte da família. Aparentemente o pernambucano concordou, mas, aproveitando uma ausência de Ininguaçu (que tinha saido para caçar), raptou Iratembe e fugiu. O pagé, ao descobrir que fora enganado ficou furioso e mandou dois filhos - Timbira e Japiaçu - irmaos da cunhã, buscá-la em Olinda. Ao chegarem no destino, os irmãos conseguiram falar com o Governador-Geral Antônio Salema, que estava visitando a região. O governador, depois de ouvir os índios, concordou com a devolução de Lábios de Mel e deu ao trio um salvo-conduto e instruções para que não fossem molestados no seu retorno para as terras de Copaoba. Durante a viagem de volta os índios pediram abrigo e pernoite no engenho do português Diogo Dias, em Tracunhaém (nas imediações da atual cidade de Goiana-PE). No dia seguinte a indiazinha havia desaparecido. Dizem que um dos filhos do dono do engenho também enamorou-se pela menina e, com o apoio do pai, a escondeu dos irmãos. Se o interesse era transformá-la em escrava, amante ou nora não se sabe com certeza; o certo é que o paradeiro da jovem nunca foi esclarecido e os irmãos voltaram para a tribo de “mãos abanando”. Sabendo do ocorrido o pai da jovem mandou nova comitiva falar com o governador em Olinda. Salema não estava mais por lá e as outras autoridades não deram importância ao pedido dos indigenas. Diogo Dias desconversava, ganhava tempo, esperando que tudo fosse esquecido, mas, instigado pelos franceses, Ininguaçu reuniu mais de mil guerreiros da Paraíba e do Rio Grande e atacou com fúria o reduto do português. Com exceção de dois filhos que estavam ausentes, toda a família de Diogo Dias, trabalhadores, escravos e até os animais foram mortos. O engenho e os canaviais foram incendiados. Os índios continuaram a devastação até os arredores da vila de Igarassu. Apavorados com o que ficou conhecido como "O Massacre de Tracunhaém" as autoridades e o povo de Olinda pediram socorro ao Governo-Geral em Salvador, que relatou o ocorrido ao rei Dom Sebastião. Preocupado em conter a rebelião dos índios e o contrabando dos franceses, o rei determinou, em 1574, a criação da Capitania Real da Paraíba, com terras da falida Capitania de Itamaracá e da ainda inexplorada Capitania do Rio Grande. Se fosse nos EUA essa histόria da indiazinha Lábios de Mel, mixto de Helena de Trόia com Pocahontas, seria há muito tempo tema de livros, teses, filmes, musicais e quem sabe até de desenho da Disney. Mas, infelizmente - que eu saiba - não existe na Paraíba nenhuma escola, rua, praça, monumento ou estátua que lembrem a curta vida dessa indiazinha que, involuntariamente, tornou-se "pivô" de uma chacina onde morreram mais de 600 pessoas e que determinou a criação da Paraíba, único Estado Brasileiro surgido à partir de uma trágica histόria de amor.
Olá! Gostei da história. Vou compartilhar no meu blog. Veja lá.
ResponderExcluircoachingecotidiano.blogspot.com.br
E assim começou a história da Paraíba. Ótimo blog.
ResponderExcluirHistória que se passa em Serra da Raíz, gostaria de seu contato para conversarmos sobre.
ResponderExcluir2022 - leva a crer que José de Alencar (Iracema) tenha certa conotação com essa história, pra não dizer, referência, apropriação, plágio. - Me perdoem meus conterrâneos alencarinos. - Abraço, Everardo.
ResponderExcluir